sábado, 30 de abril de 2016

Empréstimos escondidos vão ter "consequências políticas significativas"



Governo moçambicano "luta por manter autoridade política", notam os peritos da unidade económica da revista britânica. Rácio da dívida pública relativamente ao PIB vai chegar a 81,7%, muito além dos 65% previstos.
 A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje que a divulgação de 1,4 mil milhões de dólares em empréstimos escondidos em Moçambique vai ter consequências políticas "significativas", que serão aumentadas pelas dificuldades que atingem a economia.
"As consequências políticas vão ser significativas", escrevem os peritos da unidade económica da revista britânica The Economist, numa nota de análise sobre a assumpção pelo Executivo de dívidas não declaradas no valor de 1,4 mil milhões de dólares, a que a Lusa teve acesso, a poucos dias da visita do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa ao país.
"A popularidade do Presidente já estava baixa por causa da deterioração da situação de segurança, do aumento dos custos de vida e do abrandamento do crescimento económico", diz a EIU, notando que o Governo "luta por manter a autoridade política sobre facções políticas rivais dentro do próprio partido no poder".
Numa conferência de imprensa na quinta-feira, o primeiro-ministro moçambicano apresentou os valores da dívida total do país, assumindo que há dívidas garantidas pelo Estado, entre 2013 e 2014, de 622 milhões de dólares a favor da Proindicus e de 535 milhões de dólares para a Mozambique Asset Management (MAM).
A par dos encargos com o serviço desta dívida nos próximos anos, o Governo reconheceu ainda a existência de uma dívida bilateral, contraída entre 2009 e 2014, de 221,1 milhões de dólares, "no quadro do reforço da capacidade para assegurar a ordem e segurança pública".
No total, são cerca de 1,4 mil milhões de dólares que não constavam nas contas públicas e que levaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender uma missão que tinha previsto a Maputo e também o desembolso da segunda tranche de um empréstimo a Moçambique, um movimento seguido pelo Banco Mundial e pelo Reino Unido, um dos doadores internacionais.
"Apesar de a dívida ter sido contraída pelo Governo anterior, liderado pelo antigo Presidente Armando Guebuza, a falha na divulgação aos credores vai criar dúvidas sobre a competência da atual administração, escrevem os analistas da EIU, considerando que o Executivo será pressionado para investigar como o dinheiro foi gasto.
"Com vários antigos governantes da administração anterior ainda a terem considerável influência política, uma investigação será débil, no máximo", lê-se na nota de análise, a que a Lusa teve acesso.
No documento, os peritos da Economist consideram que o rácio da dívida pública relativamente ao PIB vai chegar a 81,7%, quando a previsão original apontava para um valor na ordem dos 65,3%.
"O volume de dívida pública externa já era grande para uma economia do seu tamanho, e a revelação de empréstimos adicionais levanta sérias dúvidas sobre a capacidade do Estado para cumprir as suas obrigações", lê-se na nota enviada aos investidores esta semana.
"A economia de Moçambique tem ficado cada vez mais frágil ao longo do último ano, afetado por um 'cocktail' de riscos externos e um legado de más decisões políticas, mas a recente admissão do Governo de que tem mais de mil milhões de dívidas escondidas ameaça lançar o país numa crise", escreve a EIU, notando que "a capacidade do Presidente para tirar a economia da beira do abismo é dificultada pela sua própria falta de autoridade política".
Quando tomou posse, lembram os peritos, o PIB real tinha crescido, em média, 7% ano ano durante a última década, e as empresas estrangeiras planeavam investir milhares de milhões para transformar o país num importante produtor de energia, mas desde então o perfil do país sofreu uma desvalorização.
A descida do preço das matérias-primas levou a uma depreciação de 35% da moeda local e as reservas em moeda estrangeira caíram 25% no ano passado e o país teve de pedir um empréstimo de quase 300 milhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional.
Lusa

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