Governo moçambicano "luta por manter autoridade
política", notam os peritos da unidade económica da revista britânica.
Rácio da dívida pública relativamente ao PIB vai chegar a 81,7%, muito além dos
65% previstos.
A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje
que a divulgação de 1,4 mil milhões de dólares em empréstimos escondidos em
Moçambique vai ter consequências políticas "significativas", que
serão aumentadas pelas dificuldades que atingem a economia.
"As consequências políticas vão ser
significativas", escrevem os peritos da unidade económica da revista
britânica The Economist, numa nota de análise sobre a assumpção pelo Executivo
de dívidas não declaradas no valor de 1,4 mil milhões de dólares, a que a Lusa
teve acesso, a poucos dias da visita do Presidente português, Marcelo Rebelo de
Sousa ao país.
"A popularidade do Presidente já estava baixa por causa
da deterioração da situação de segurança, do aumento dos custos de vida e do
abrandamento do crescimento económico", diz a EIU, notando que o Governo
"luta por manter a autoridade política sobre facções políticas rivais
dentro do próprio partido no poder".
Numa conferência de imprensa na quinta-feira, o
primeiro-ministro moçambicano apresentou os valores da dívida total do país,
assumindo que há dívidas garantidas pelo Estado, entre 2013 e 2014, de 622
milhões de dólares a favor da Proindicus e de 535 milhões de dólares para a
Mozambique Asset Management (MAM).
A par dos encargos com o serviço desta dívida nos próximos
anos, o Governo reconheceu ainda a existência de uma dívida bilateral,
contraída entre 2009 e 2014, de 221,1 milhões de dólares, "no quadro do
reforço da capacidade para assegurar a ordem e segurança pública".
No total, são cerca de 1,4 mil milhões de dólares que não
constavam nas contas públicas e que levaram o Fundo Monetário Internacional
(FMI) a suspender uma missão que tinha previsto a Maputo e também o desembolso
da segunda tranche de um empréstimo a Moçambique, um movimento seguido pelo Banco
Mundial e pelo Reino Unido, um dos doadores internacionais.
"Apesar de a dívida ter sido contraída pelo Governo
anterior, liderado pelo antigo Presidente Armando Guebuza, a falha na
divulgação aos credores vai criar dúvidas sobre a competência da atual
administração, escrevem os analistas da EIU, considerando que o Executivo será
pressionado para investigar como o dinheiro foi gasto.
"Com vários antigos governantes da administração
anterior ainda a terem considerável influência política, uma investigação será
débil, no máximo", lê-se na nota de análise, a que a Lusa teve acesso.
No documento, os peritos da Economist consideram que o rácio
da dívida pública relativamente ao PIB vai chegar a 81,7%, quando a previsão
original apontava para um valor na ordem dos 65,3%.
"O volume de dívida pública externa já era grande para
uma economia do seu tamanho, e a revelação de empréstimos adicionais levanta
sérias dúvidas sobre a capacidade do Estado para cumprir as suas
obrigações", lê-se na nota enviada aos investidores esta semana.
"A economia de Moçambique tem ficado cada vez mais
frágil ao longo do último ano, afetado por um 'cocktail' de riscos externos e
um legado de más decisões políticas, mas a recente admissão do Governo de que
tem mais de mil milhões de dívidas escondidas ameaça lançar o país numa
crise", escreve a EIU, notando que "a capacidade do Presidente para
tirar a economia da beira do abismo é dificultada pela sua própria falta de
autoridade política".
Quando tomou posse, lembram os peritos, o PIB real tinha
crescido, em média, 7% ano ano durante a última década, e as empresas
estrangeiras planeavam investir milhares de milhões para transformar o país num
importante produtor de energia, mas desde então o perfil do país sofreu uma
desvalorização.
A descida do preço das matérias-primas levou a uma
depreciação de 35% da moeda local e as reservas em moeda estrangeira caíram 25%
no ano passado e o país teve de pedir um empréstimo de quase 300 milhões de
dólares ao Fundo Monetário Internacional.
Lusa